O SILÊNCIO FALOU MAIS ALTO

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O Benfica voltou a sagrar-se campeão nacional de basquetebol passados cinco anos, com o destaque de ter feito a festa no mesmo local que 10 anos antes, na época 2011/12.

Sob a orientação de Carlos Lisboa depois do sucesso que teve como jogador e com jogadores como Ben Reed, Miguel Minhava, Diogo Carreira, Heshimu Evans ou Frederick Gentry, o Benfica teve que suar e muito para levar de vencida o seu rival, FC Porto, pois só conseguiu ser campeão na negra e o cesto da vitória foi marcado quase a acabar o último período de jogo. O responsável: Betinho Gomes, que tal como o Tomás Barroso, voltou a festejar 10 anos depois.

Desta vez, foi com o professor Norberto Alves, que tinha ao seu dispor, jogadores como o Frank Gaines, Aaron Broussard que foi MVP, Makram Ben Romdhane, Wendell Lewis e, Ivan Almeida, que é o principal motivo desta publicação.

Durante o 3º jogo da final, jogo que o Benfica teria de vencer para fazer logo a festa, um adepto do FC Porto pronunciou insultos racistas na direção de Ivan Almeida como preto e vai para África. Soube-se agora que o adepto foi identificado, mas na altura, nem o clube da casa se pronunciou sobre o assunto. Sei que a maioria dos adeptos não se revê nessas atitudes e que racistas há (e infelizmente) em todo o lado, mas o silêncio de quem, acima de tudo, deveria fazer barulho é uma vergonha.

Mas ainda há mais.

No jogo em que o Benfica pôde finalmente fazer a festa (dentro do recinto, algo que não tinha sido possível em 2012), Ivan Almeida pegou na bandeira da terra dele que é Cabo Verde, mostrou-a na direção de alguns adeptos que foram racistas com ele e mandou calá-los, uma decisão que foi acertada, a meu ver. Ora, alguns jogadores da equipa da casa, nomeadamente o João Soares (que pasme-se, terminou a carreira e que infelizmente, jogou por cá) e o americano Max Landis, não gostaram do ato provocado por Ivan Almeida e foram pedir-lhe satisfações.

No dia 29 de julho (quase dois meses depois), a Federação Portuguesa de Basquetebol lançou um comunicado a anunciar as infrações: Max Landis saiu ileso sem se saber como, João Soares que já confirmou que vai-se retirar, foi castigado com dois jogos, mas viu a sua pena ser reduzida para um jogo e o Ivan Almeida conseguiu levar dois jogos.

Portanto, a vítima é que apanha o castigo maior e um dos visados nem castigado foi. E, ainda gostaria de saber como é que um reformado da modalidade irá cumprir o castigo? Mais do que isso é de lamentar que a Federação Portuguesa de Basquetebol não se tenha pronunciado sobre a situação de racismo, quando há claramente provas do que aconteceu. Como disse o Ivan Almeida e bem, ficar em silêncio é ser racista.

Antes de acabar, mencionar também as palavras de Afonso Barros, que negou ter havido racismo e que os comentários em questão, foram no calor do jogo. Ou seja, sabe que os comentários surgiram, mas que não foi racismo. Que no Porto não há racismo e que deu a simples desculpa de que há uma diversidade étnica e religiosa e de que podia ser usado com qualquer jogador, quando sabemos que esses comentários são praticamente sempre direcionados para pessoas de origens africanas. Também ele viu o seu castigo a ser trocado para uma simples repreensão. Será por causa da cor da camisola?

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