Eu não estou a desculpar os jogadores, treinadores e Direcção do Benfica. Eles são os principais responsáveis pelo desastre que foi esta temporada.
A Direcção porque fez um péssimo trabalho na gestão do futebol, desde recrutamento, à escalada vertiginosa dos gastos acessórios ao plantel, mas sobretudo porque está lá há três anos e ainda não fez os mínimos olímpicos para curar o clube da enorme divisão que há entre os adeptos. Não mudaram os estatutos, andam há três anos para apresentar uma auditoria, cada vez mais colocam os jogadores numa torre de marfim completamente isolados dos adeptos… a lista é grande…
O treinador porque foi-lhe dado um plantel de 20 e poucas alternativas e ele nos jogos decisivos todos optou por usar sempre as mesmas 12-13. A gestão do Roger Schmidt do plantel não foi minimamente ideal. Aliado a isso, há a questão das respostas na comunicação social. Cada um dá um peso diferente a isso. Tenho poucas dúvidas que o discurso internamente fosse o mesmo que tem para fora. Mas o discurso para fora claramente irritou muita gente e precisa de ser repensado. No final, acho que se a bola entrar, isto nunca é um problema.
Os jogadores acabam por ser as maiores vítimas. Muitos deles estiveram sempre em posições para fracassar, fruto das más decisões de mercado e das más opções do treinador.
Posto isto, no espaço de 5-6 semanas o clima dentro do clube tornou-se completamente tóxico a um nível que eu sinceramente não tenho memória. É verdade que vandalizaram a casa do Bruno Lage, mas nunca vi o plantel do futebol ter uma atitude com os adeptos como ontem, e depois do que aconteceu em Faro, em Famalicão, na Luz na semana passada e ontem durante o jogo, não condeno os jogadores. Lamento, mas não condeno.
Os adeptos do Benfica têm todo o direito de estar revoltados. Não é aceitável a Direcção esteja lá há 3 anos a prometer-nos mudanças dos estatutos, ou uma auditoria à gestão da Direcção anterior – que é praticamente a mesma de agora (o que foi um enorme erro). Não é aceitável que o Benfica tenha gasto 140 milhões em 7 pontas de lança nos últimos 9 anos e só dois tenham tido uma época (cada) com mais de 20 golos. Não é aceitável que o treinador tenha um plantel de 20 e tal soluções mas bata o record de minutos da carreira do Di Maria quando já tem 36 anos (e o Di Maria foi dos nossos melhores jogadores esta temporada). Isto é exigência. Isto faz sentido reclamar.
Há depois uma linha até onde podem ir. E os adeptos do Benfica passaram essa linha, mais uma vez. Não estou a desculpar quem montou todo este desastre de temporada. Mas há uma linha. Nós somos um clube nas vitórias e nas derrotas. Aqueles são os nossos jogadores. Podem ser horríveis, mas são os nossos. E não foram os jogadores que queimaram as pontes. Foram os adeptos em Faro, em Famalicão, na Luz contra o Arouca e ontem em Vila do Conde. A partir do momento que os adeptos acham natural vaiar a equipa, humilhar o clube, arremessar objectos ao treinador, mandar um petardo ao autocarro (que foi isso que levou à carga policial ontem), isso deixa de ser exigência. Passa a ser loucura.
A maneira de mudar o Benfica para melhor é com diálogo, ponderação e inteligência. Não é com violência, intimidação e política de terra queimada. Porque aí, de pouco vale quem vem a seguir, vai encontrar um clube onde os adeptos acham normal vaiar a equipa, humilhar o clube, arremessar objectos ao treinador e mandar petardos ao autocarro.