A ESTRATÉGIA PARA O FUTEBOL DE RUI COSTA

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Numa altura que voltámos à telenovela de verão de vender um jogador, é importante começar a colocar alguma racionalidade nesta discussão.

Porque é que o Benfica tem que vender todos os anos? Isso, parecendo que não, é estratégico. Podemos é debater se a estratégia faz sentido.

A estratégia para o futebol do Rui Costa é diferente da estratégia que se praticava na altura do Luís Filipe Vieira. Ou pelo menos no grosso dos anos do Luís Filipe Vieira.

Com o Luís Filipe Vieira havia, apesar de tudo, um rigor financeiro. O Benfica raramente deu prejuízo.

Não estou a debater se roubou ou não roubou – a auditoria deixa isso em claro. Mas no final, o Benfica deu quase sempre grandes lucros e nesse período, fruto também de um grande adiantamento de receitas, o Benfica baixou imenso os níveis de dívida (já estava a baixar mas a grande parte veio do adiantamento). Este rigor financeiro foi constante, excepto nos últimos anos, o tal ano do all-in, onde começou uma nova estratégia que o Rui Costa em vez de alterar, tem exponenciado.

Desde esse ano, e desde que o Rui Costa assumiu as rédeas do clube, o Benfica começou a gastar mais do que produz. O Benfica recebe X das bilheteiras, dos patrocinadores, das transmissões televisivas e das provas europeias, mas depois gasta X+Y em salários, FSEs, contratações e juros.

E só há duas maneiras de financiar este Y: acumulando mais dívida – que com o Rui Costa já está no dobro daquilo que o Luís Filipe Vieira deixou – ou vendendo jogadores.

O Rui Costa acredita que como vamos vender um jogador todos os anos, o Benfica deve internalizar uma parte da venda de jogadores nos gastos operacionais da SAD. Desta maneira, pode pagar mais e melhores salários a jogadores (que ele acha que são) melhores, ter mais e melhores profissionais no apoio à equipa, ter uns gastos, no mínimo, suspeitos nos FSEs. Na opinião do Rui Costa, tudo isto traz uma vantagem desportiva perante os adversários. Este é o projecto de futebol do Rui Costa.

Depois há outras partes relevantes no projecto de futebol do Rui Costa.

Tem que haver um misto de jogadores experientes com jogadores jovens (porque são os jovens que geram grandes vendas para manter a máquina de vendas em funcionamento e depois pagar mais salários e mais funcionários no suporte de tudo isto). Mas o essencial é isto: o Benfica tem que gastar mais do que produz porque vende todos os anos.

Diga-se também que se o Benfica gastasse só X (em vez de X+Y), já gastaria mais do que os adversários. O que também diz que esta estratégia é mais vocacionada para as provas europeias do que por causa dos rivais internos. E em defesa do Rui Costa, é verdade que internamente estes gastos não se têm reflectido, mas na Europa, o Benfica há muito tempo que não estava em três quartos-de-final num prova Europeia seguidos. Ou seja, a estratégia parece parva mas não é assim tão parva.

Este plano para o futebol não foi inventada pelo Benfica. Esta é a estratégia do FC Porto há décadas. Até ao dia que rebentou (por vários motivos: deixaram de ter um treinador que valorizasse jovens; falharam a Champions League). O FC Porto ainda não contratou ninguém. E o objectivo desde o ano passado é baixar muito os custos, para ver se não têm que vender muita gente (trocar o treinador mais caro da Liga por um desconhecido ajuda bastante). É que ainda por cima estão fora da Champions League, que é, historicamente, a maior fonte de receitas do Porto.

O Sporting tem um projecto muito parecido ao do Benfica de Vieira: ou seja, um grande rigor. Só precisam de vender quando falham a Champions League. De resto, podem vender, podem não vender. Não estão obrigados a nada. E este ano até puderam estrear um empréstimo obrigacionista (que não tiveram que reembolsar como o Benfica) o que lhes deu uma liquidez extra.

Já nós, todos os anos enquanto esta estratégia durar, vai ser a mesma coisa. Vamos ter que vender alguém. E neste momento a despesa já é tão grande que já não é só um jogador que temos que vender. As projeções financeiras da época passada apontam para os 40-50 milhões de prejuízo e vendemos o Gonçalo Ramos por 65 milhões (sem a venda do Ramos teriam sido 100 milhões de prejuízo).

É também importante perceber uma coisa: o Benfica vai sempre ser um clube vendedor porque é uma das maiores montras europeias e está num mercado onde paga no máximo X de salários e na Premier League há clubes do meio da tabela a pagar 3X e clubes do topo da tabela a pagar 7X. Nós vamos sempre vender. Se não estivermos obrigados a vender todos os anos, podemos chegar a um jogador que tem 4 anos de contrato e dizer que não há nenhuma proposta no mundo que o leve já. Ou seja, em vez de vendermos um jogador todos os anos, podemos vender três jogadores a cada quatro anos ou quatro jogadores a cada cinco.

Por isso, para o ano, quando estivermos em eleições, mais do que perguntar quem é o treinador do seu projecto, se o equipamento alternativo do Benfica deve ter um emblema monocromático, ou se o Estádio devia ser expandido para quantas pessoas, a primeira pergunta que cada candidato deveria responder é: qual é o seu projecto para o futebol e como é que o quer financiar.

Esse sim é um problema que o Benfica tem que mudar e resolver. O João Neves se sair não é porque lhe oferecem um salário 15x maior, nem é porque o João Neves é um ingrato. O João Neves se sair é porque o Benfica não tem mais ninguém para vender e não pode continuar a acumular dívida (e juros) para suportar os excessos do projecto do futebol do Rui Costa.

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1 Comment

  1. Que magote de falsa informação e de opinião mascarada de factos.

    Não, a estratégia não mudou. A de Vieira era exatamente a mesma. E a que faz sentido: formar. E a formação tem custos, operacionais, sem correspondente receita operacional (o futebol dos putos não dá dinheiro, claro). Logo, a única forma de tirar rendimento (económico, claro) dos miúdos é por via da sua venda – receita extraordinária.

    Isso será sempre um facto. Gastaremos, como clube formador, sempre mais do que receberemos, pela estrita atividade de formação. Logo, seremos sempre um clube vendedor. Não há outra via, dado o nosso curto mercado periférico e inseridos num campeonato que gera poucas receitas tv.

    Nada mudou. O equilíbrio mantém-se. Temos feito aquisições de elevado valor, que exigem também elas vendas de elevado valor – para além da formação (vide Enzo). Tal como antes.

    Finalmente, é PATÉTICO dizer que o Sporting tem “um projeto de grande rigor”. Epa, vergonha nessa cara.
    O Sporting beneficiou de um perdão de dívida num valor absurdo, titânico, inimaginável. Todo o equilíbrio do Sporting é uma dádiva do BCP e Novo Banco. O efeito do custo da dívida perdoada, nas contas do Sporting, levaria o clube de Alvalade para uma necessidade de vender, a todo o custo, nada comprar, menos vencer, menos poder falhar.
    Incomparável. E patético.

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