Enquanto googleava uma frase que me pudesse servir de ponto de partida para este artigo, encontrei outra que não teria à partida muito a ver com aquilo que eu queria escrever: A vida é muito simples, mas insistimos em complicá-la.
Terá sido Confúcio a proferir estas sábias palavras, há mais de 2.500 anos. Hoje, no limite do primeiro quarto do séc. XXI, a frase de Confúcio continua a afirmar a sua intemporalidade. E é aplicável a praticamente todas as áreas do quotidiano. Nós é que nos vamos limitar, obviamente, à área desportiva, mais concretamente, ao futebol, mais concretamente ainda, ao Sport Lisboa e Benfica.
Bruno Lage chegou esta época à Luz, em setembro, numa espécie de operação de emergência motivada pelo já esperado (e tão ansiado por muitos) despedimento de Roger Schmidt. Era Roger a grande aposta de Rui Costa, e não havia mais ninguém para ocupar aquele lugar no banco do SLB, não havia plano B. Ou será que havia?
Havia, pois. O plano ‘B’ de Bruno. Um homem que já tinha singrado no Benfica, sagrando-se campeão em 2019 e vencendo a Supertaça Cândido de Oliveira do mesmo ano. Um homem da casa, Made in Seixal, Benfiquista e sofredor como todos nós e que, também como todos nós, falhou em determinados momentos da carreira, acabando por ter de abandonar o barco no decorrer da época seguinte.
Na verdade, nunca saberemos muito bem se Rui Costa já tinha esta carta na manga ou se Bruno Lage foi a opção G ou H depois de outras opções lhe terem dado a nega. É até esse o cenário mais provável. Mas, apesar de não ter tido desde o início a confiança da maioria dos Benfiquistas -que exigiam um treinador de outro gabarito, com experiência internacional, que não fosse tão mole, que soubesse falar, que mandasse murros na mesa, etc.- o certo é que o Mister Bruno Lage foi trilhando o seu caminho à sua maneira, com as armas que lhe deram (boas armas, por sinal!) e que ele não escolheu, tranquilo e sereno, mas pedindo sempre algo aos Benfiquistas, no fim de cada jogo: tempo. Precisamos de tempo para treinar as rotinas, estamos a jogar de 4 em 4 dias e não temos tempo para preparar. Dêem-nos tempo.
O tempo passou e, entre alguns devaneios, polémicas, áudios filtrados, etc., foram chegando os resultados. Não todos os que queríamos ou tal como queríamos, é verdade. Não contávamos com a derrota em casa frente ao Feyenoord, com o empate frente ao Bolonha, com a derrota em Alvalade. Mas o balanço, depois do tal tempo que ele nos pediu, está longe de ser negativo: conquista da Taça da Liga numa final frente ao nosso principal rival, oitavos de final da Champions, final no Jamor praticamente assegurada e líderes isolados do Campeonato, com dois pontos de avanço sobre o segundo classificado (Sporting), e 11 sobre o terceiro (Braga). Se a isto somarmos pequenos brindes como o 4-0 ao Atlético de Madrid na Luz e 8-2 no somatório de confrontos com o FCP, diria que temos motivos para esboçar um sincero sorriso.
E se voltarmos atrás no artigo e lermos mais uma vez a frase de Confúcio, percebemos a aplicabilidade da mesma nesta aventura de Bruno Lage como treinador do Sport Lisboa e Benfica. De uma forma simplificada, trata-se de um treinador de futebol, um Benfiquista que regressou ao clube do coração, pediu tempo, ganhou, perdeu, errou e chegou onde estamos agora.
Numa altura em que se vive, a nível Global, uma instabilidade sócio-económica causada pelos excessos dos extravagantes, pelas ambições desmesuradas dos extremistas, saibamos valorizar a ponderação dos normais, a banalidade dos simples. Não sabemos se vamos conquistar mais algum título esta época. Mas temos de admitir que Bruno Lage, esse indivíduo tão banal, tão igual a todos nós, merece, com todo o mérito, o conforto em que se encontra neste momento enquanto treinador do maior clube de Portugal e do Mundo.
Que isto não seja apenas uma alegria temporária. Que o Triplete se torne realidade!