A falta de atitude, garra, vontade e raça no jogo da Supertaça esteve à vista de todos. Sexta no Dragão, não foi isso que se viu.
Na antevisão do jogo, havia aqueles mais otimistas, que mesmo nos momentos difíceis, conseguem ver algo de positivo. E do outro lado, os mais cautelosos, sabendo que há ali fragilidades, e que provavelmente a mentalidade de vencer seja como for do adversário iria causar estragos.
Quando saiu o onze inicial, quantos de vocês recuaram uns anos atrás – aquele jogo no Dragão com David Luiz a defesa esquerdo!? Vendo o Grimaldo no lugar habitual de Everton, e o Nuno Tavares a defesa esquerdo, confesso que me surpreendeu, mas percebi logo a ideia de Jorge Jesus.
Com Seferovic e Darwin na frente, era importante ter quem pudesse meter a bola na área. Everton normalmente prefere ocupar espaços mais interiores, e raramente vai á linha de fundo cruzar.
Por isso, tendo Grimaldo e Nuno Tavares do lado esquerdo, o Benfica tentava anular os ataques de Nanu e Corona. Todos sabemos que ambos os jogadores do Benfica não são o perfil perfeito de jogadores defensivos, mas oferecem mais defensivamente do que Everton. E no ataque, Grimaldo pode ir à linha de fundo, consegue ocupar espaços interiores, o que convidava Nuno Tavares a tentar executar o cruzamento mais cedo.
E, foi isso que aconteceu no golo do Benfica.
Tavares com o cruzamento, Seferovic amorteceu para Grimaldo que aproveitou o espaço atrás dos defesas, e estava feito o primeiro golo da partida.
Mas, além da surpresa do lado esquerdo, ainda tivemos mais uma surpresa antes do jogo.
No podcast desta semana, o Campos falou que o Jorge Jesus estava diferente, e mencionou a sua aparência. O JJ versão 1.0 no Benfica aparecia sempre de fato, e por vezes com uma camisa branca que parecia ser de uma pessoa bem mais forte do que ele.
Será que o JJ tenha ouvido as palavras do Campos?
O que sei é que o mister apareceu em pleno relvado do Estádio do Dragão de casaco, gravata, e sapatilhas, ou ténis para alguns.
Quando vi as imagens de JJ à boca do túnel vestido a rigor, disse logo – o JJ voltou.
Não quero entrar pelas estatísticas do jogo porque já se falou muito disso. O que para mim foi o fator mais importante deste jogo foi a entrega, a vontade, a raça, o não ter medo de meter o pé, as picardias, e o espírito de luta.
Os jogadores dentro das quatro linhas deram o peito às balas.
Quando é que foi a última vez que o Benfica foi tão agressivo num jogo, especialmente contra o Porto? Até o Pepe que é o rei da porrada já estava a ficar chateado. Pizzi não encolheu os ombros contra ele, o Gilberto apareceu para também mostrar que ali não havia lugar para mansinhos, e para mim, o lance de destaque foi na segunda parte, no meio campo, Vertonghen, Grimaldo, e acho que foi o Pizzi, umas duas ou três vezes seguidas, lutaram para que o Porto não conseguisse sair com a bola, até que Sérgio Oliveira mandou um charuto na bola, e o Sonseição mandou o acalmar.
Essa vontade e mentalidade também viu se depois do apito final.
Jorge Jesus teve um discurso de não estar satisfeito porque o Benfica poderia e deveria ter ganho. Essa mentalidade de certeza que irá dar mais motivação aos jogadores. O treinador quer mais, e viu se bem que os jogadores também querem mais.
Finalmente, começamos a ver um Benfica dentro das quatro linhas à imagem do que esperamos de Jorge Jesus, e o que os adeptos exigem.
Podem não ter ganho o jogo, mas como já disseram muitos, ali, na Cidade Invicta, o Benfica poderá ter ganho uma equipa.