SEI O QUE FIZESTE NOS VERÕES PASSADOS

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Escrevo no rescaldo de mais uma derrota na Supertaça. A taça com o nome de Cândido Oliveira é o espelho fiel do trajeto do nosso clube nos últimos 40 anos (a supertaça existe desde 1979).

Temos oito vitórias, cerca de 20% do total de edições. Em vários verões sofremos esta derrota. Isso mostra a dificuldade que temos tipo desportivamente nos últimos 40 anos, com o pináculo entre 1995 e 2005, em todas as competições que disputamos.

A retoma iniciou-se, como sabemos, em 2001 com Vilarinho e mais tarde com Vieira.

O objetivo de Vieira ao longo dos últimos 15 anos foi tornar a gestão do clube profissional. E com isso, pensava ele, viria a hegemonia no futebol Português. Eu concordava. O Benfica é um exemplo empresarial.

A solidez financeira e o caminho levado para tornar o clube quase livre de dívida bancária, é um legado importante e inteligente em qualquer empresa. O problema é que não estamos num mercado normal e livre de influências externas.

Os três grandes do nosso futebol são “too big to fail” e começo a achar que a solidez financeira e a gestão baseada no sucesso financeiro não são uma vantagem num meio extremamente emocional e irracional como o futebol.

Não vejo diferença entre um Benfica financeiramente sólido e o nosso maior rival, há cerca de cinco anos falido.

Aliás, não se percebe como o nosso rival sobrevive num momento em que as receitas caem 20%. Não se percebe, quando pensamos no futebol como um mercado comum, como é a construção civil, a indústria automóvel ou a aviação. Mas o futebol é diferente e aparece sempre alguém a salvar a honra do convento. Por isso, a estratégia que há alguns anos considero correta, começo a ter dúvidas que seja.

Continuando ainda num registo holístico, e analisando a estratégia corporativa do clube, parece-me que tudo estava planeado na direção do Benfica, exceto a vinda e mais tarde a manutenção do atual treinador do nosso maior adversário (prometo que não falarei muito mais deles).

Parece-me que a estratégia de anos, o trabalho de centenas, as ideias de dezenas e as decisões de um punhado de pessoas de tornar o Benfica hegemónico em Portugal, estão a ser destruídas apenas por uma pessoa. É redutor, mas é o que penso.

Algo não está bem e temo que possa piorar. A estrutura inexpugnável que nos guiou desde 2009 até a 2018 está a desvanecer-se e cheira a fim de ciclo.

Foram uns bons 10 anos. Os melhores 10 anos de Benfica da minha vida, onde consegui reganhar algum amor próprio, onde permiti-me entrar algumas vezes no meu local de trabalho de cabeça levantada e orgulhoso, consegui enviar algumas mensagens pedantes a amigos chegados, onde beijei o símbolo do meu clube a festejar, alguns saltos da cadeira em momentos de tensão, alguns beijos mais acidentados e, acima de tudo, alguns arrepios no momento do golo, da bola na barra, das arrancadas do Di Maria, dos passes do Aimar, dos golos do Cardozo, dos cortes do Luisão e de qualquer toque na bola do Jonas.

Espero, acima de tudo, sentir tudo isso nas arrancadas do Everton, nos passes do Pizzi, nos golos do Darwin, nos cortes do Vertonghen e de qualquer toque na bola do Taarabt. Mas não sinto. E acho que eles também não…

Que 2021 traga a chama imensa e que volte o campeão.

Um abraço,

Nuno Sousa

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Nuno Sousa

Nuno Sousa

Nuno Sousa é um homem. Um homem nascido e criado em Guilhufe, terra de encantamentos prostrada no quasi litoral Português. Nuno Sousa deixou Guilhufe no início deste milénio. Guilhufe nunca saiu dele. Nuno Sousa tinha condições para ser modelo de roupa interior mas cedo foi captado pela magia da Construção Civil, arte em que se especializou e onde aplica, na atualidade, conhecimentos ligados à gestão diversa