Esta semana tivemos uma espécie de ‘caso Rafa’ com o pedido de dispensa do jogador em relação aos jogos vindouros da Seleção.
A discussão na espuma dos dias dos fait-divers clubísticos, desprovidos de qualquer racionalidade e conhecimento, levaram a que esta dispensa avançasse imediatamente, no comentário inócuo de paineleiros e ‘analistas’ futebolísticos, para um abandono definitivo do jogador Rafa Silva, à seleção A. Onde, no comunicado divulgado, está referido que Rafa abandona definitivamente a seleção? Em lado nenhum.
Rafa Silva informou na segunda-feira à Seleção e ao Selecionador Nacional da sua indisponibilidade para representar a Seleção Nacional. Refere ainda razões do foro pessoal para essa decisão, que podem ser conjunturais.
Tenho até poucas dúvidas de quais são. E quais são essas razões? Eu arrisco uma:
- Jogam sempre os mesmos, independentemente do mérito desportivo do jogador no momento.
Na seleção portuguesa atual, quando um jogador tem um bom momento de forma (consistente e de vários meses) tem como prémio (por vezes) a chamada à seleção, para treinar e viajar, porque, na verdade, vão jogar quase sempre os mesmos, seja qual for o tempo de jogo e de forma que têm vindo a ter.
Vamos ver um exemplo objetivo. Na época passada Rafa Silva fez 45 jogos, marcou 12 golos e fez 18 assistências, numa equipa que chegou aos quartos de final da Liga dos Campeões. A seleção nacional fez quatro jogos. Nesses quatro jogos, Rafa fez nove minutos!
O 4-3-3 rígido e conservador de Fernando Santos, deixa duas posições para Rafa: extremo direito e extremo esquerdo. No Benfica, o jogador tem jogado mais no centro do terreno, por trás do avançado. Não é só esta época porque já com Jorge Jesus ocupou várias vezes essa posição.
A posição que o jogador gosta mais de fazer das duas disponíveis é a de extremo esquerdo, posição essa que tem sido ocupada por Diogo Jota (independentemente de raramente ter sido titular nessa posição no Liverpool em 2022).
O outro jogador que tem ocupado essa posição é Rafael Leão, por via da grande época que fez em Itália, apesar de nunca ter demonstrado esse valor na seleção. Mas teve oportunidades… Rafa, quase que teve. A posição de extremo direito seria outra opção, mas sabemos que Otávio entrou direto para o 11 inicial, um pouco inexplicavelmente, digo eu.
Resumindo, Rafa tem duas posições possíveis no esquema de Fernando Santos. No lado esquerdo os favoritos são Diogo Jota e Rafael Leão. No lado contrário os jogadores favoritos são Otávio e Gonçalo Guedes. Onde iria jogar Rafa Silva, o jogador mais importante e consistente do Benfica nos últimos anos? Um jogador que em 239 jogos no Benfica, esteve envolvido diretamente (marcou ou assistiu) em 118 golos? Dados superiores a todos os outros três jogadores referidos…
Rafa Silva tomou a decisão certa, neste momento, porque na verdade jogam quase sempre os mesmos, na seleção nacional. A decisão dele, conjuntural, pode mudar se houvesse uma mudança de atitude na gestão das equipas.
Termino com o elefante na sala. Ronaldo já não é o Ronaldo que pulverizou todos os recordes, nem nunca mais será. Não tem lugar a titular na seleção que tem a qualidade que tem na frente de ataque, nas três posições referidas, pelo que está a ser ocupado um lugar que deveria ter outro jogador. Muitas vezes, esse jogador seria Diogo Jota (estando em forma). A declaração que Ronaldo efetuou aos seus súbditos, esta semana, de que quer estar neste Mundial de 2022 e no Europeu de 2024 vem confirmar que Rafa Silva tomou a decisão certa e outros fariam o mesmo caso tivessem a coragem que o jogador teve ou caso fossem livres de tomar decisões em consciência.
Parabéns, Rafa! É um orgulho ter um jogador como tu no Benfica.