Ora, cá estamos nós: satisfeitos por mais uma vitória na Luz para a Liga, contra um Estoril atrevido e num jogo em que as “reservas” tiveram uma palavra a dizer; a poucos horas de saber se vamos ou não ser capazes de trazer uma vitória de Glasgow e, assim, continuar a competir na Europa League; a menos de um mês da segunda-mão da Taça de Portugal na Luz, contra o rival da Segunda Circular.
A insegurança continua, a qualidade de jogo está longe de ser uma constante nas nossas exibições, a contestação diária a Mr. Schmidt ainda não diminuiu de volume, e o benfiquista comum desespera por não se sentir capaz de amar a equipa como gostaria.
Neste mar de incertezas e sorrisos amarelos, há coisas que se mantém inabaláveis e são capazes de se manter à tona com uma essência inquestionável e uma força do outro mundo. Duas coisas, mais concretamente. E não são coisas, vá. São jogadores.
Não me lembro de ter ficado tantas vezes boquiaberto em jogos diferentes do Benfica como me acontece desde que vejo João Neves a jogar.
Amo-o, amo tudo aquilo que faz e como o faz. Já lhe procurei defeitos e não consigo encontrar um que seja.
Ok, talvez aquela máxima de ir a todas possa prejudicar o equilíbrio da equipa em determinados momentos, mas o homem é fantastico a disputar todo e qualquer lance em que se mete!
Como é que vou ralhar com ele por fazer algo tão bem feito?
Tem técnica, tem passe, sabe defender, tem sentido de posicionamento, lê muito bem o jogo, joga bem de cabeça, tem físico, tem espírito de equipa -e de líder, é humilde.
Sem medo de me precipitar e arrepender no futuro, digo já com todas as letras: Em 18 anos de Seixal, João Neves é a mais valiosa pérola lançada pela formação do Sport Lisboa e Benfica. Terá de percorrer um caminho tão bom ou melhor que o de Bernardo, é certo, mas tenho mesmo muita fé no miúdo.
O outro jogador é o bacalhau, o suspeito do costume, o Freddy (porque poucos se atrevem a dizer o nome dele).
Desde que chegou há mais de ano e meio, Aursnes conquistou o coração dos benfiquistas e promete não sair de lá tão cedo.
Num plantel que é uma espécie de roleta louca de jogadores e posições, ele é aquela pedra segura, a aposta certa para qualquer função, o trabalhador incansável cuja preocupação fundamental é garantir ao chefe e ao grupo que está ali, presente, pronto para dar tudo por aquela equipa, seja onde for e custe o que custar.
Fred é o jogador que todas as equipas querem ter, porque é válido e muito capaz para diferentes posições. Se há jogador com o qual assinava já um contrato vitalício, era com ele. Mas sem sequer pestanejar.
Neves e Aursnes, dois ases poderosos num castelo de cartas que teima em não desabar, e muito por culpa deles. Estarei atento e de câmera em punho, tanto no Marquês como no Jamor (e, porque não, em Dublin?) para captar o momento em que se abracem durante os festejos.
Será muito provavelmente, a última vez que os veremos juntos, envergando o manto sagrado.